É basicamente isto.

É basicamente isto.

6 de março de 2013

Sejamos sérios, senhores.

Não sei quem é o senhor que diz durante a apresentação do "Movimento dos Reformados Indignados", entre outras coisas, "já mamaram muito à custa dos outros", mas gostava de propôr uma vénia nacional em sua homenagem.
Honestamente, eu acho que há por aí muito "boa" gente que anda a gozar com a desgraça alheia. E não, até nem é por se queixarem dos cortes que as suas reformas sofreram. Percebo. Ninguém quer receber menos. Nem os que recebem muito, nem os que recebem pouco. Todos têm as suas vidas organizadas em conformidade com o valor que auferem. Ou nem todos, mas isso é outra conversa. E todos devemos lutar para manter os direitos e regalias que adquirimos. Até aqui tudo certo. Não vou aqui discutir se alguém, por muito que tenha trabalhado, merece uma pensão de 70 mil euros mensais, nem se todas as regalias que adquiriu são legítimas. A questão é que não se trata de uma conversa entre amigos, uma tertúlia, um desabafo, enquanto fumam mais um ou dois charutos antes de se enfiarem nos carros topo de gama. Este Movimento faz apresentações públicas, manifesta-se perante um povo reformado que, esse sim, vive de reformas miseráveis. E fá-lo de forma indignada, veja-se. Nestas alturas, como tem acontecido tanto nos últimos tempos, eu pergunto-me se o juízo foi perdido por completo. Seria assim tão difícil prever as reacções a um Movimento que, espantemo-nos todos, é liderado pelo ex presidente do BCP? A sua reforma foi cortada e está indignado. Certo. Afrontar o Povo com a sua indignação pública, é que já é errado. É indecoroso.
Tenho alguma pena que não tenha sido formado um movimento contra os valores destas reformas, antes dos cortes. Os "comuns reformados" deixaram que estes senhores auferissem as suas reformas escandalosas sem formarem Movimentos. Em silêncio social.  E agora ligamos as TVs e abrimos os jornais e lá está ela. A indignação de quem não olha para o resto do País, porque o próprio umbigo está bem mais perto.

Algum decoro, senhores. Só algum.

11 comentários:

  1. O que eles querem dizer com isto, é:
    os pobres que paguem a crise, gerada pela fuga de capitais e pelos negócios ruinosos dos banqueiros.
    Agora descobriram mais uns quantos ligados ao BPN, acusados de vários crimes pelos quais, se fosse na América, qualquer deles não apanhava menos de 100 anos de prisão (o sr. Maddock, foi preso, julgado e condenado em 150 anos de cadeia).
    Veremos no fim se o Estado não vai ter de os indemnizar por difamação e ofensas ao bom nome, que é a única coisa que esta gente tem de bom. Tirando o bom nome, são tão criminosos como osanónimos.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Touché!

      Cavava um buraco e mandava-me lá para dentro, antes de aparecer em público a queixar-me deste tipo de reformas.

      Eliminar
  2. Estou à espera de para de vomitar, para conseguir falar sobre este assunto...ainda estou na fase do nojo, nem consigo articular o que sinto...

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Chocante, não é? O bom senso já era, definitivamente.

      Eliminar
  3. A este grupo de senhores, juntava também aquele do BPI e uns tantos outros e fazia-os descobrir um novo caminho marítimo para a Índia.
    É que já nem vergonha na cara têm, quanto mais respeito pelos outros.

    A cada dia que passa, dou comigo a imaginar que mais notícias me poderão surpreender. E não é que elas aparecem sempre. Sempre!

    Este país cansa-me...

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Sem caravela, só com meia bóia para cada um.

      Estou contigo. Juro que, às vezes, já ligo a TV a pensar "qual será o insólito de hoje?"

      Eliminar
  4. Esta questão é de facto chocante. De qualquer forma temos de manter a cabeça fria e perceber que em democracia este tipo de movimentos são legítimos, apesar de não concordarmos com eles, afinal "calar" estes senhores seria recorrer a métodos de outro tipo de regimes.

    Mas que apetece entrar de metralhadora a este tipo de sessões públicas com um cartaz a dizer "A Ganancia Mata!", e começar a disparar, lá isso apetece ;)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Sérgio, não é uma questão de legitimidade. É uma questão de respeito e vergonha na cara destes senhores. Ninguém os quer calar, eles é que nem deviam falar.

      Estou contigo nisso da metralhadora.

      PS - Não leves a mal a minha "resposta", mas, realmente, este é um assunto que, nos últimos 2/3 anos, deixa-me com os nervos "na ponta da franja"...eheh

      Eliminar
    2. A mim o que choca também, é a indignação que trazem a público. Que se queixem lá em casa e entre amigos, tudo bem. Isto é que choca...

      Sérgio, isto era um trabalho para o próprio do Chuck Norris.

      Eliminar
  5. A ver se exponho o meu ponto de vista sem ser chacinado, pois tenho mixed feelings sobre o assunto.

    1-A culpa é do governo, pois senão tivessem ido buscar o fundo de pensões da banca, nunca a segurança social teria de pagar certas reformas e se os bancos fossem à falência o fundo de pensões que suportava estas reformas também se esgotaria.

    2-se obtiveram essas reformas por causa de acções fraudulentas, como a manipulação de resultados, aí a culpa é do Estado, seja através do organismo supervisor que falhou, seja através de quem não tem vontade política para apertar com os lobbies da banca e seguros

    3-Acho que 14.000 euros limpos é uma pensão muito boa e é aviltante que se venha queixar em especial qando há pessoas que nem 200 euros têm de pensão

    4-Acho que o Estado não é pessoa de bem, pois muda as regras de jogo e obriga as pessoas que passaram uma vida a descontar grandes valores (nem estou a falar dessas pensões faraónicas) e que se reformaram com certos valores líquidos e agora dá um corte brutal nas reformas, obrigando as pessoas que contavam ter uma velhice descansada a não poder ter

    5-É tanto mais chocante este ataque às reformas quanto aprovaram a lei da isenção para as reformas dos estrangeiros, ou seja, os reformados da dinamarca, da suécia e afins, se viverem 6 meses por ano em Portugal deixam de descontar as barbaridades que descontam nos seus países cujos estados sociais oferecem tudo e um par de botas, ou seja, se calhar o melhor é para além de mandarmos os nossos jovens embora, correr também com os velhos com maiores reformas.

    6-Numa nota pessoal, o meu pai há muitos anos que não tem qualquer aumento, pelo contrário tem tido diminuições por causa da treta do factor de sustentabilidade, agora levou um corte pela taxa de solidariedade, mas também cortaram-lhe um complemento para o qual tinha descontado um valor adicional. Escusado será dizer que com a inflação ainda a pensão lhe é cada vez mais comida. É a isto que chamamos solidariedade ? E não, não tem uma pensão astronómica, mas também não é miserável.

    7-Eu até concordava com as taxas de solidariedade nas pensões mais elevadas, se esses valores fossem aplicados exclusivamente nas reformas/pensões mais baixas, funcionando assim como um mecanismo de solidariedade, mas não é isso que acontece, pelo contrário, a vida dos mais pobres está cada vez mais difícil e a menos que informem sobre a vida dos filhos não têm direitos a complementos de solidariedade.

    8-Para terminar que já vai longo, e que tal acabarem com reformas aos 40 e tal anos para pessoas válidas como a presidente da AR ou da câmara de palmela, só porque cumpriram x anos numa determinada função política ? Ou acabarem com a acumulação de reformas de organismos públicos ?

    Eu se passasse a receber só 14.000 em vez dos 40.000 também ficaria indignado, mas como esses valores para mim só em sonhos, acho que teria algum pudor de ser o líder assumido dum movimento desses. O problema é que esse senhor desvia a atenção daqueles que tinham reformas que lhes asseguravam um bom nível de vida e agora se calhar com os compromissos que têm vêem-se obrigados a passar uma velhice muito menos confortáveis.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Primeiro, os meus aplausos a este comentário. Não só pela extensão, mas, sobretudo, pelo conteúdo. Não há ponto algum em que esteja em desacordo contigo. o 8.º ponto que aqui enuncias, é das realidades que mais me revoltam neste País.
      Quando, no passado sábado, participei da manifestação, fi-lo não por achar que deviamos correr com a troika, mas por achar que está praticamente tudo errado na gestão deste (e dos outros) governos, por achar que as Leis e as posteriores alterações são feitas para servir quem as faz e quem sabe que irá, um dia, beneficiar delas. Este é um dos problemas de fundo deste País.

      Quanto à minha "revolta" em concreto sobre o assunto deste post, é exactamente pelo que descreves no último parágrafo que aqui deixas. Ficaria indignada e teria de reorganizar uma série de realidades assumidas com base no valor anterior, certamente. Daí a ter a distinta lata de esfregar a minha indignação na cara de quem vive com reformas que são quase inexistente, vai uma diferença tamanha, que me parece quase desumana.

      Parabéns e obrigada pela opinião que aqui partilhaste.

      Eliminar

Elaborai à vontade a tua teoria.

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.