É basicamente isto.

É basicamente isto.

7 de abril de 2013

Eu chamo-lhe Cagança.

Infelizmente, o tema não é novo. O episódio a que assisti, está longe de ser isolado ou de ser o primeiro do género. Também não será o último. Se há um tipo de gente que me causa assim uma náusea para cima do aceitável, é aquela gente que adora ser tratada por Dr/Dra. Aliás, não adora, que isso era pouco. EXIGE. Este gente exige que, antes do nome, antes de Maria ou António, ou Manel, ou Joaquim, seja colocado o título de Dra. ou Dr. Isso enche-lhes as entranhas de importância. Sentem-se logo assim a subir quatro ou cinco níveis na hierarquia humana. Qual? Aquela que acreditam que existe.
 
Na fila do supermercado, enquanto aguardava a minha vez, tropecei numa destas pessoas. Um homem (não vou chamar-lhe senhor porque a minha definição de senhor não se aplica a qualquer um) exigiu, da forma mais sobranceira que possam imaginar, que a funcionária o tratasse por Dr. Ao que entendi, surgiu um problema com o cartão multibanco do Sr. Dr. A situação já se arrastava há uns minutos, quando a funcionária teve o azar de proferir uma frase semelhante a "O senhor tem que verificar com o seu banco o que se passa, não faço ideia". O homem, já furioso com a demora e os olhares de terceiros, decide largar a seguinte pérola "Para começar, vai tratar-me por Sr. Dr. X! Não sabe ler?" E voilá. Cá está. O cartão multibanco deste homem, ao contrário do que acontece com o seu Cartão do Cidadão, terá o título de Dr. antes do seu nome. Clap, clap, clap. Bela merda, se me permitem, foi o que me apeteceu gritar lá de trás. Ao lado, a senhora que o acompanhava, estava,  ou eu estou doida, genuinamente envergonhada com esta postura. A minha revolta aumentou quando percebi que a funcionária, ao invés de meter a criatura no lugar com a resposta que merecia, pediu desculpa e passou a trata-lo por Sr. Dr. X. Sempre fui contra a máxima "O cliente tem sempre razão". No entanto, também eu lido com o público. Não desta forma, não tão directamente, mas o suficiente para saber que, por vezes, há que ignorar, engolir um sapo e atirar para trás das costas.
 
Há neste País um fenómeno que não sei se ocorre noutros. É o fenómeno da doutorice aguda. Quem dela sofre, tira um curso superior e acredita que, a partir desse momento, tem o direito de ser tratado de forma superior pelos outros. Elevou-se a um nível que nem todos atingem. Deixou de suportar ser tratado apenas pelo nome que lhe foi dado pelos Pais. Isto para mim, prova uma só coisa que os meus Pais tantas vezes disseram: instrução não é sinónimo de educação. E é bem verdade. O Sr. Dr. pode ter instrução, mas educação? Essa não se pode comprar.
 
Isto é gente que me causa uma repulsa difícil de transmitir. E antes que alguém pense, ou me venha dizer, que isto é dor de cotovelo, eu tenho um curso superior. Mas o dia em que exigir a alguém que me trate por Dra., será o dia em que eu não sou eu. Em que todos os valores que me transmitiram se perderam. Será o dia em que me esqueci de todas as minhas origens e que as pessoas valem muito mais do que aquilo que os cursos ou empregos dizem delas.

32 comentários:

  1. Nem de propósito estive mesmo vai não vai para essa ser a frase do dia 'instrução não é sinónimo de educação' Detesto essas cenas :P

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  2. Detesto-os, então quando sou eu a atender alguém assim....nojo de gente

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    1. Gentinha sem valores e com as prioridades todas trocadas. Gentinha que está bem é a tentar enxovalhar os outros...

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  3. Faz me um favorzinho, acrescenta aí às tua opções de cruzinha PALMASSSSSS!

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  4. Deus me livre se na minha vida, no meu dia a dia, dizia uma coisa dessas. Nem quando estou nas minhas funções directivas o digo, embora não goste que, sem me conhecerem me tratem por tu, como eu não trato os outros... Há gente que não teve educação só licenciatura! Fico fula e mais fula fico quando vejo empregados de qualquer lado a tratarem com vènias alguém só porque tem um curso superior.

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    1. Esta funcionária até podia ter um curso superior, porque nos dias que correm, os licenciados estão nos mais diversos empregos...mas uma coisa tinha : muito mais educação!

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  5. Se eu fosse à funcionária, tinha-lhe pedido o certificado de habilitações.

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    1. Eu pedia-lhe o Cartão do Cidadão e depois dizia-lhe como se chama. Só para esclarecer...

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    1. E tu sabes tão bem quanto eu o que é aturar esta gente.

      Obrigada.

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  7. CM, sabes aqueles textos que dão vontade de partilhar com o mundo? Este é um destes. Que o poderoso nos livre dessas criaturas pedantes, que arranjaram um diploma em vez de um carácter.

    Uma vez também apanhei uma bronca por chamar "senhor" a uma dessas pessoas. Foi durante o meu estágio e eu era muito novinha, fiquei toda envergonhada por levar nas orelhas. Mas hoje sim, eu saberia o que responder...

    Tem uma boa semana! Beijinhos **

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    1. Obrigada, Joana!

      A educação é um dos valores que tem vindo a perder-se neste País. Cada vez mais as pessoas crescem com os "valores" todos trocados e a descarregar as frustrações nos outros.

      E é como dizes : muitas vezes, a "surpresa" é tão grande, que somos apanhados desprevenidos e falha-nos a resposta!

      Boa semana, Joana! Um beijinho

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  8. Esse sr. deve ser mais um "dr." Relvas. E, infelizmente, o que não faltam por aí são "dr.ºs" Relvas. Pessoas à procura de protagonismo a qualquer custo e por qualquer meio.

    Na minha vida profissional lido, quase diariamente, com Advogados. Eu próprio já o fui, em tempos longínquos (felizmente), e, infelizmente, não tenho uma opinião muito boa sobre a classe. Confesso que da coisas que me dá mais gozo, quando surge algum deles com essa falta de educação é começar a tratá-los por Sr.(a) Advogado(a) em vez de Sr.(a) Dr.(a). É vê-los a espumarem pela boca, mas em 95% das ocasiões mudam logo a postura e o comportamento.

    Atenção: tenho a perfeita noção que nem todos são iguais e que existem excelentes exemplos. Mas os maus, são mesmo MUITO maus.

    Já agora, sempre que renovo o meu cartão MB, lá vem a minha (salvo seja) instituição bancária questionar se quero o "Dr." antes do nome...O mal começa logo aqui...É pena.

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    1. Acho que a minha aversão veio também, desde logo, desses tempos. É uma vaidade, uma arrogância que não se aguenta. Também eu, felizmente, fiquei pouco tempo nessa vida. Garantidamente, este é um dos problemas que teria sempre. Ia faltar-me a paciência para tanta cagança.

      PS- o meu banco também tem essa mania. Já tive que devolver um, depois de ter pedido expressamente apenas o meu nome. Enfim...

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    1. Uma vergonha. E esta gente, aparentemente, acha que assim é que se deve comportar.

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  10. Na minha terra diz-se que um burro carregado de livros, é um Dr.

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  11. Antigamente pouca gente era licenciada, e de facto ter-se um canudo daria acesso a um certo status, e provavelmente vem daí a "preocupação" que muita gente tem com este tipo de coisas. No fundo assemelha-se a um ato de "novo-riquismo".

    Agora hoje em dia com a massificação do ensino superior parece-me que este tipo de coisas vai deixar de ser motivo para que a maioria das pessoas se sinta "destacada" por causa disso.

    Em relação a outros países deve haver de tudo, mas pela experiência que tenho, o nosso caso é um pouco extremo, onde para além dos títulos, parece que toda a gente tem uma certa necessidade de se sentir chefe, chefinho, chefezito, chefezinhozito, etc., nem que seja a descascar batatas (cargo: gestor operacional coordenador de logística superior de descascamento batatal).

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    1. Completamente, Sérgio. E tocaste noutro ponto interessante: a quantidade de chefias que existe dentro de cada estrutura, dá vontade de rir para não chorar.

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  12. Hiiiiiiii!!!!!!Minha Amêndoa;)
    Pr esta ou por aquela razão lido com o publico desde que sou gente...já me conheces um bocadinho, não?! Então vou-te contar esta rapinho: Um dia estava eu a trabalhar, quando dou uma resposta que não era exatamente aquela que a pessoa queria ouvir e responde-me:
    "Mas você sabe com quem está a falar?!"
    Resposta minha:
    "Eu sei, mas o senhor não sabe de certezinha (e estendo-lhe a mão)o senhor, tem o prazer de estar a falar com Suricate de tal, pronto estamos apresentados, posso ajudá-lo em mais alguma coisa?"
    O homem ficou sem fala, enguliu a viola e foi à vidinha dele..."

    Há tantos Relvas neste país...que se desaparecessem isto virava o Sara!!!!

    Jinhosssssssssssssssssss

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    1. Suri, estás cá dentro!!! Nem esperava outra coisa de ti! Isso podia ser uma resposta minha. Também tenho tendência para cegar quando me deparo com esta gente! Esse é bem capaz de ter aprendido...ainda hoje se deve lembrar de ti, em pesadelos! ;)

      Beijinho!

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  13. Isso para mim é ser parolo... Se alguém me dissesse isso desatava-me a rir e só parava quando me levassem presa ;) Detesto gente arrogante. Eu faço questão de não ser tratada assim. Eu sou apenas a A. e vou ser sempre a A. :)
    Beijinho

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    1. Exactamente. Sou a Cláudia Maria, prazer =)

      Beijinho

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  14. Infelizmente em Portugal é mesmo assim! Até mete nojo! Para mim, senhores doutores são os que nos atendem no hospital, porque são médicos. Se cada um tem a sua profissão, qual a necessidade de generalizar? Se eu sou jornalista, não sou doutora! Se os outros são advogados, professores, engenheiros, técnicos disto ou daquilo, porque raio têm de ser doutores???
    Na minha família há um caso flagrante que faz rir muitas vezes: a minha prima, que tirou a licenciatura em direito, é Srª doutora!! Mas eu, que tirei a licenciatura em Jornalismo e Comunicação (e que por sinal até já fiz metade do mestrado) sou simplesmente a Lois! :p
    Se ela é melhor do que eu?? Não! Mesmo! Felizmente a minha auto-estima não se deixa abalar por estes pormenores! :D

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  15. Isto é uma coisa mesmo tuga. Tive um professor na faculdade (inglês) que teve imensa dificuldade em explicar aos senhores do banco que não queria nenhum doutor/dr/... antes do seu nome. Acho que chegou a mandar uma data de cartões para trás.

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    1. É um hábito muito tuga, é. Desconheço se é um fenómeno além fronteiras, mas por cá "é mato".

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  16. A vontade que dá, sabes qual é? É dizer-lhes para meterem o título no cu!, perdoai-me a linguagem. Hmpf. Gentinha mete-nojo, pá.

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    1. Cynthia, já ganhaste! No cu é a expressão correcta. Correndo o risco de alguns gostarem...peço desculpa.

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Elaborai à vontade a tua teoria.

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