É basicamente isto.

É basicamente isto.

30 de abril de 2013

A profissão mais velha do Mundo.

Tenho plena noção do quão sensível este assunto pode ser de abordar. Tenho, até, algum receio de partilhar a minha opinião sobre ele. Não por querer agradar a gregos e troianos, que não ando cá para isso, mas por ter receio de ser injusta de alguma forma.
A minha opinião sobre a Prostituição é quase extremista, a roçar o fundamentalismo. Tenho enormes dificuldades em entender que exista algum tipo de desespero suficiente para fazer uma mulher (vou só referir-me às mulheres, que são quem compõe a maioria deste mercado) enveredar por esta via. Por outro lado, também não consigo conceber que alguém faça deste o seu modo de vida, sem ser por absoluta necessidade. Talvez por ser mulher, tenha tantas dificuldades em conceber esta Profissão. Não tenho a menor dúvida que não existem empregos ao virar da esquina. Estou perfeitamente a par da realidade do País. Também não sou uma lírica que julga que um dia a prostituição desaparecerá. Mas que gostava, lá isso gostava.
Tive oportunidade de conhecer o Red District, ou o Bairro da Luz Vermelha, em Amesterdão. Sabia mais ou menos ao que ia, mas, ainda assim, tinha curiosidade em ver com os meus olhos esta realidade, confesso. Esta "visita" obrigou-me a pensar novamente naquela que é chamada de mais velha profissão do mundo, e nas mulheres que dela vivem. No que as levou a este caminho, nas condições em que o fazem. Hoje, se soubesse a diferença que faz ver umas fotografias ou estar ali, a cêntimetros daquelas montras, não quereria conhecer este bairro. Posso atestar, sem qualquer tipo de exagero, que fiquei nauseada. Ver mulheres, das mais variadas idades (estão lá miúdas com uma vida pela frente, e mulheres que já podem ser avós), de soutien e fio dental, em montras, como se de qualquer outro produto para consumo se tratasse, com pequenas camas ao lado, deu cabo deste estômago. Soubesse eu que o efeito em mim seria aquele, e teria deixado a curiosidade por matar.
Quem me acompanhava perguntou-me se não acho que é pior o que se passa em Portugal. Se não acho pior ver estas mulheres à beira da estrada, sem quaisquer condições. Honestamente? Não sei. A certeza de estar ali um produto, um bem em exposição (com a sua intimidade literalmente exposta a todo o tipo de olhares), é demasiado liberalismo (ou chamem-lhe o que quiserem) para a minha cabeça. Costumo dizer que todas as profissões são dignas, mas, e sem querer ferir susceptibilidades e na certeza que estou a falar de vidas e pessoas que desconheço, não consigo encontrar ali dignidade. Consigo entender que seja desejável que exerçam esta "actividade" com condições que em Portugal não têm. Mas colocá-las em montras? Permitir isto? Não consigo encaixar esta mentalidade.

19 comentários:

  1. Concordo com tudo o que disseste. No entanto, mais do que as das "montras", ou as da "beira da estrada", a mim choca-me mais a realidade de algumas mulheres de um país com o qual trabalho (Quénia), onde nos Bairros de Lata existem mulheres a prostituir-se por um montante em "Kenya Shillings" equivalente a 20 cêntimos. Isto, quando não lhes "pagam" com porrada em vez do dinheiro..

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    1. Isso então, é absolutamente revoltante. Há vidas que, honestamente, talvez nem se devam chamar de vidas. Isso não é viver. É qualquer coisa que não sei apelidar.

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  2. Bem...é como dizes, tema complicado. A mais velha profissão do mundo "permite" tudo: Permite que mulheres educadas, instruídas, inteligentes entrem por estes caminhos por gosto e por amor ao dinheiros. Permite que toxicodependentes paguem o vício, permite que mulheres inocentes sejam postas "a render" pelo homem que amam/chulo. Permite tudo e um par de botas, até quando mete crianças ao barulho...mas sabes, só deixaria de existir prostitutas se deixasse de exister quem as procura..e isso enoja-me.

    Quando à realidade de Amesterdão fico dividida pois se é um condição humana degradante (para quem se vende e para quem paga por sexo) a leia Holandesa confinou-as a um espaço, a uma zona. Não garante segurança ou o que seja mas estão com um texto por cima das cabeças e não na rua, num parque de estacionamento de uma zona empresarial, à beira de jardins infantis no Monsanto...é complicado. É uma vida complicada e um tema complicado aceitar como se envereda por estes caminhos quando há tanta escada para levar e até a estiva já aceita mulheres.

    Desculpa o post grande...

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    1. Ora essa, adoro comentários grandes :)

      Em amesterdão, há uma série de montras que estão de frente para uma Igreja, e têm ao lado aquilo que me pareceu (ou estão doida) uma escola/infantário). Aliás, passaram ali Pais cm crianças pela mão. Confesso que me senti na 5ª dimensão. Quis sair dali o quanto antes.

      E o que dizes é bem verdade. No caso da Prostituição de luxo, por exemplo, ainda mais : necessidade ou dinheiro fácil?

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    2. Não sei sabes? Custa-me a crer que seja um caminho fácil, mesmo para aquelas que mais tarde se gabam da boa vida que têm e dos luxos que ela lhe proporciona mas não acredito que seja algo levado de ânimo fácil...deve existir ali um interruptor que se desliga e pronto.

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  3. Isto é daqueles assuntos que dá "pano para mangas" e daquelas tipo mago.

    Concordo com praticamente tudo o que escreves. No entanto, provavelmente por já ter visto (várias vezes) até onde é que pode chegar a condição humana (e nem estou a falar de países de 3º Mundo, temos por cá exemplos inacreditáveis), o que (ainda) me choca verdadeiramente na prostituição são os casos em que a mulher é obrigada a tal. E, acredita, acontece bem mais vezes do que se possa imaginar, do que a TV ainda vai mostrando...

    Quanto às ditas montras, talvez por já ter visto "o outro lado", não me chocou assim tanto. O ideal era não existir de todo qualquer tipo de prostituição...Mas isso era o ideal...

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    1. Até tremo só de imaginar a vida das mulheres que são forçadas a isso :/ Como é que é possível viver assim?

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  4. Faz-me particular horror o tráfico para o sexo, sejam mulheres ou crianças (de ambos os sexos)... o verdadeiro inferno na terra... :/ Quanto a quem o faz por opção...suponho que a grande percentagem estaria a fazer outra coisa se pudesse, se tivesse ânimo para tal, se lhe fosse dado outra escolha. Talvez uma prostituta de luxo, durante um tempo, o faça sem grande peso na moral...mas duvido que consiga olhar-se no espelho muito tempo sem se sentir totalmente vazia. Mas isto sou eu, que não percebo nada do assunto...e também acredito que é coisa que nunca acabará...

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    1. Honestamente, e posso estar a ser imensamente injusta, acho que no caso da postituição de luxo estamos perante uma forma de ganhar dinheiro "fácil" que se vai tornando um vício...

      O tráfico é outra realidade que não acho que nunca desaparecerá. É um mundo que gera muito dinheiro, infelizmente.

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  5. A mim chocou-me muito mais um dia ter ouvido alguém dizer: "há muitas que fazem por prazer". Não acredito que haja mulheres que o fazem por prazer, por muito viciadas em sexo que pudessem ser.

    Acredito, isso sim, que haja muitas que vão ficando pelo dinheiro "fácil" - conseguem mais em 2/3 dias do que num mês de trabalho normal, e isso pode ser aliciante para adoptar/manter determinado estilo de vida. Infelizmente, faz-se muita coisa por dinheiro :/

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    1. Nem mais, Roger. Por prazer? Nenhuma mulher tem prazer em estar com todo e qualquer tipo de homem, digo eu!

      Que algumas fiquem pelo dinheiro, isso já acredito. Embora considere que é preciso ter uma cabeça "doente" para isso, tendo outras alternativas.

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  6. Talvez por ser mulher, incomodou-me ver mulheres em montras no Red Light District, pareciam carne num talho...

    A diferença entre as de Amestedão no RLD e as de Lisboa na beira das estradas é que as primeiras têm segurança a vários níveis, as segundas - infelizmente - estão sujeitas a tudo de mau...

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    1. A mim também, GATA. Mulheres a vender-se em montras, é coisa que não consigo encaixar. Não precisam de estar ali, para ter outro tipo de condições que cá não existem. É demasiado degradante.

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  7. O que me revolta mesmo, e não julgo as mulheres têm os motivos delas e cada um tem a sua consciência, é tratarem a mulher como ojecto sexual, do tipo usa e deita fora.

    Acho que toda a profissão devia ser digna e ter as condições para ser digna.

    Leva a muito debate e fico por aqui, mas partilho da tua opinião.

    beijinhos.

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    1. Tudo o que conduz a que as pessoas sejam vistas, e tratadas, como objectos, causa-me muito transtorno. Não percebo como é que se vive assim.

      Beijinhos

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  8. É um tema muito complexo, necessidade, vicio no dinheiro, pagar drogas... Há um sem fim de razões, o que não acredito é que haja alguém que algum dia sonhe que "quando for grande quer ser prostituta"...

    O que me choca mesmo, é o tráfico humano, de mulheres ou homens (não sei se existe) que são forçados e acima de tudo o tráfico de crianças, é das coisas mais repugnantes que um ser humano pode fazer a outro ser humano. Quanto ao resto choca-me sim, mas foram decisões tomadas deliberadamente, tiveram o poder de decisão. Por isso... Não deixou de ser uma escolha.

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    1. Também tenho uma enorme dificuldade em entender se estamos perante necessidade ou escolha. Cada caso será um caso, mas não existirão mesmo alternativas?

      O tráfico é uma realidade assustadora!

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    2. Eu considero que (excepto quando há situações de tráfico e coação) independentemente de ser promovido por necessidade ou não há sempre escolha... Há sempre uma tomada de decisão. O que se sabe é que o tema é extremamente complexo!

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  9. Concordo com o teu texto, é coisa que me causa um nojo tremendo e faria de tudo, mas tudo para arranjar uma alternativa, mas se o meu filho alguma vez estivesse a passar fome, eu n tivesse trabalho nem rendimentos, ninguém que me ajudasse, nem forma de lhe pôr comida na boca, sei que o faria, porque não há nada mais importante que ele.

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