É basicamente isto.

É basicamente isto.

5 de setembro de 2012

Anti-tourada. Assumida.

Fantochada. Não me ocorre outro nome para aquela que alguns (demasiados ainda, infelizmente) chamam de arte. Eu tentaria respeitar a Tourada, não fosse estarmos a falar de uma actividade que se baseia em maltratar um Animal. Daqui não consigo passar, lamento. Podem usar os argumentos que quiserem, atirar com a palavra tradição as vezes que conseguirem. Vão tourear-se uns aos outros, e eu deixo de ser contra. Talvez até vá assistir, para dar umas valentes gargalhadas. Vão espetar as bandarilhas no lombo uns dos outros. Giro, não é?

A este propósito, dois episódios lamentáveis : o forcado que ficou paraplégico e o cavaleiro que decidiu "tourear" os manifestantes anti-tourada. Quantas situações deste género serão necessárias para que este "espectáculo" deprimente seja proibido? Não querem ir pelos Direitos dos animais? Então que pensem no Direito à Vida. Já estou por tudo. Os limites de velocidade, a obrigatoriedade do cinto de segurança, os avisos nos maços de tabaco e afins, têm o propósito de proteger a Vida. A própria e a alheia. Mas atirar-me para a frente de um animal que me pode matar, não só é permitido, como é apoiado por muitos que ditam as Leis? E pagam-se bilhetes para assistir a isto? Terceiro mundo.

Partilho aqui o texto que o Nuno Markl tão bem fez em partilhar. Desconheço a autoria, mas uma enorme salva de palmas para quem o escreveu :

"O único argumento legítimo e verdadeiro que têm [os aficionados], é o de a tourada ser um espectáculo legalizado e, como tal, terem todo o direito a   participar. Ponto final porque acabam aí os argumentos válidos. O sr. que fala em adrenalina ou no sangramento para alívio do touro obviamente não entende nada de biologia, de fisiologia ou de comportamento animal; percebe apenas da sua adrenalina quando assiste a espectáculos de violência. Essa dos sangramentos para alívio dos humores foi uma prática médica muito em voga na Idade Média mas abandonada posteriormente. 

O que está na base do movimento anti-touradas não é claramente uma questão de gostos. Os gostos não se discutem. O pior é quando os nossos gostos colidem com a vida ou a integridade física de outros. Gostar é diferente de amar ou respeitar. É por demais evidente que os pedófilos gostam de crianças; mas é uma maneira de gostar que passa pela exploração dos menores e pela negação dos seus direitos.

Os que vivem da indústria tauromáquica cuidam dos touros porque vivem da sua exploração; se eles não lhes trouxessem rendimento, duvido que tratassem deles em regime pro-bono. Mas fica o desafio: vamos ver quantos aficionados amam verdadeiramente a raça taurina e se dispõem a cuidar dos exemplares existentes quando acabarem as touradas. Como fazem, por exemplo, as associações de animais por este país fora, que abnegadamente se dedicam a cuidar de cães e gatos abandonados.

Outra falácia comum para fugir à discussão séria sobre ética é comparar a vida em liberdade que precede a tortura na arena à vida dos animais em criação intensiva. É claro que a criação intensiva é uma ignomínia, mas não invalida que as corridas de touros não constituam também uma ignomínia.  Aqui podemos cair na questão de comparar coisas parvas como campos de concentração, por exemplo: seria melhor acabar em Auschwitz ou em Treblinka? É melhor morrer à nascença ou aos 4 anos? Com uma facada no peito ou afogado? Tudo isto são questões absolutamente laterais e cujo único objectivo é desviar a atenção de uma pergunta muito simples: é eticamente aceitável criar um animal para o massacrar publicamente e ganhar dinheiro assim? Se respondermos sim, abrimos a porta para as lutas de cães, de galos, e até de indivíduos que, por grande carência financeira ou mesmo falta de neurónios, se disponham a entrar num recinto e participar numa luta de morte em jeito de espectáculo. Há quem goste de ver. E se vamos pela quantidade de público a assistir, nada batia os linchamentos públicos nos pelourinhos. Mas isso também acabou; houve uma altura em que passámos a considerar isso um espectáculo incorrecto e imoral.

Vi agora que ainda há mais uns pseudo-argumentos: comparar injecções ou vacinas com as bandarilhas. Parece uma brincadeira comparar uma agulha fina com o objectivo de tratar uma doença ou evitar outra - no caso das vacinas - com a introdução de 9cm em metal grosso, cujos 3cm finais são em forma de arpão para não sair e continuar a rasgar os músculos e os ligamentos durante a lide. Das duas, três: ou está a brincar, ou não usa o raciocínio ou quer enganar os outros.   Depois vem mais uma das bandeiras frequentemente agitadas: a da extinção do touro bravo. Como muitos dos que lutam contra a existência das touradas são pro-ambientalistas, este parece ser um argumento forte. Parece, mas obviamente não é. O que os ecologistas defendem é a não interferência nos ecossistemas porque há equilíbrios frágeis cuja totalidade das varáveis são   desconhecidas e as rupturas imprevisíveis. Não tem nada a ver com o touro bravo. A extinção do touro bravo teria o mesmo impacto ambiental que a extinção do caniche. Podemos lamentá-la, claro, por razões sentimentais,   mas não afectam em nada os ecossistemas. E se falamos de ambiente, as herdades onde se faz a criação extensiva de touros podiam dar lugar a montados de sobro e plantação de oliveiras. Temos um clima e um solo excelentes para a produção de azeite e cortiça e não somos autónomos na questão do azeite, o que nos traria ganhos financeiros e mais independência económica. Os toureiros, se quisessem reconverter-se, podiam ir para a apanha da azeitona com as suas calcinhas justas e a jaqueta de lantejoulas; não seria prático mas dava uma nota de cor aos campos nessa altura do ano."


CM

8 comentários:

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    1. V., conhecendo as tuas raízes, aplaudo ainda mais de pé a tua posição quanto a esta palhaçada.

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  2. Quando fumam ao lado dos outros, esses não têm obrigação de levar com o que não lhes pertence. Os próprios humanos gostam de toirear os da mesma espécime.

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    1. Um não fumador tem, em quase 100% dos casos e principalmente hoje em dia, a opção de não frequentar sítios onde é permitido fumar. Ou optar por não estar com quem fuma. O Animal não se pode defender. É colocado na arena e fica lá até que se cansem ou que o dinheiro pago pelo bilhete esgote. É simplesmente lamentável...

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    2. Cara Nico.

      Primeiro o humano não nasceu com a ponta de um cigarro na boca. Segundo, um não fumador não tem opção. FUMADORES são a opção, logo se estão a incomodar ( que na visão dos mesmos nunca o estão), e são vários os casos, que não existe alternativa. O touro por si, infelizmente, pode marrar. Os não fumadores muitas vezes nem falar podem, sendo criticados.

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    3. Não posso concordar. O Não fumador tem muitas vezes opção, quase sempre. Quanto ao fumador, depende da educação de cada pessoa o incomodar os outros ou não, em toda e qualquer circunstância, não só com o tabaco. Seja como for, e independentemente das opiniões sobre o tabaco, o que está em causa é a tourada. E não há argumento no mundo que me faça perceber esta actividade. Mas esta é só a minha opinião.

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  3. Claramente, quem escreveu dito texto é extraordinariamente ignorante quanto a biologia também. E ao resto?
    Partilho da mesma opinião, contra, no entanto, a produção escrita em termos argumentativos deixa muito a desejar...
    Enfim, digno de um blog que também deixa muito a desejar.

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    1. Oxalá a solução para acabar com esta fantochada fosse tão simples como a solução contra os blogs, artigos, livros, palavras que não nos agradam ou não nos interessam : é só escolher não ler. Ou ler e ignorar.

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